quarta-feira, 4 de março de 2020

Sobre o amor

(À Nathasha de Andrade)

Meu amor por ela é puro e raro.
Tão raro quanto os bons poemas românticos
Que não falam de amor.

É um estar apaixonado de um novo modo a cada novo dia.
Envolve novas brigas e novas sensações
E se renova como a natureza, o clima e os dias.

A impossibilidade de se deixar de amar é constante e nos acompanha há muitos anos.
E o tempo é uma medida de extrema  importância
Porque transforma a presença em casa, em colo.

Não enxergo futuro sem ela e nem consigo me lembrar de como vivia antes dela chegar.


terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Nós, os seres do céu.

Nas ultimas férias tive a oportunidade de mergulhar e vislumbrar um pouco da beleza que existe no mundo debaixo d'água. Enquanto estava submerso me encantava com tantas espécies diferentes de peixes e corais, nadei com arraias e dei alguns passeios com tartarugas bem simpativas. Durante muitos momentos, fiquei parado apenas observando, fascinado com a vastidão, profundidade e diversidade do mundo marinho. A impressão geral que se tem quando mergulhamos é de que realmente somos visitantes do "mundo de cima", astronautas vindo de um lugar onde a vida funciona de uma forma muito diferente.

Num desses dias, após nadar com algumas tartarugas em arraial do cabo, um amigo decidiu ficar na beirinha de uma praia de pescadores esperando que eles puxassem a rede de pesca com o objetivo de comprar peixe fresco. Sou vegetariano há pouco tempo e comi peixe a vida toda antes disso, não quis ser hipócrita e fui com ele para acompanhar, mas fui apenas porque ele é espanhol e não fala português muito bem, também fiquei receoso de cobrarem muito caro como infelizmente fazem com os gringos aqui no rio de janeiro. Retirei a máscara, o pé de pato e a camisa, reuni nosso equipamento e fiquei sentado numa pedra observando os pescadores trabalhando. Quando puxaram a rede muitos peixes lutavam para sobreviver, se debateram durante muito tempo até morrer. Os pescadores jogavam seus corpos mortos na areia sem nenhuma emoção, afinal esse é o ganha pão deles. O fato é que em alguns minutos a água da praia estava vermelha, tinginda com o sangue dos peixes que obviamente perderam a batalha de forma cruel, todos morreram asfixiados no final. Minha esposa que estava mergulhando com a gente nesse dia ficou horrorizada ao assistir a cena, pude ver o quanto ela desviou o olhar e chorou ao se dar conta de como os peixes realmente sofriam, acho que ficou mais sensível pelo fato de minutos atrás estar mergulhando com eles e pouco depois assistir esse "peixecídio".

Imaginei então como seria se "seres do ceu" (alienígenas, deuses ou anjos) descessem aqui na terra e durante um tempo nos observasse, nos estudasse e no final nos capturassem e nos comessem, assim como fazemos com os peixes e "frutos do mar". Eles poderiam ter as mesmas desculpas que temos para nos alimentar dos animais, acredito que estariam no topo da cadeia alimentar pois teriam tecnologia suficiente para visitar nosso mundo, como os mergulhadores tem para visitar o mar; também poderiam justificar que sabem que nós sofremos, assim como sabemos que os animais sofrem para morrer, mas que seu "Deus" nos criou para que eles se alimentassem de nós e muito provavelmente depois de um tempo nos capturando e nos comendo, se alguns deles se negassem a nos comer porque entendem nossa dor, na certa sofreriam preconceito por pensar diferente. 

Por enquanto prefiro me dar conta de como somos ignorantes e cruéis e pensar que os nossos "seres do céu" são realmente mais inteligentes que os seres do céu que tomam banho nas águas da terra.